11 setembro, 2009

carta de amores


Cheguei do centro em meio aos ventos e à chuva fina que caía final da tarde. Enquanto caminhava pelas ruas da cidade respirava o ar gelado, desviava dos passantes apressados, das sombrinhas, das ofertas nas vitrines. é tudo sempre tão velho e novo e eu viva e ali: não é um milagre?

não falo de milagres divinos, mas dos terrenos. nas centenas de pequenas maravilhas que acontecem e que raramente percebemos, tal sua simplicidade. respirar é uma delas. olhar o horizonte. ouvir um pássaro. caminhar. sentir a brisa. olhar um filho dormindo. beijar a boca amada. ler um livro instigante. escrever. cozinhar. tantas as coisas são.

muitas vezes ia para casa - quando morava na praia e minha filha era pequenina - e ao descer do ônibus era abraçada pelo aroma dos jasmins ou damas-da-noite. a estrada ainda era de areia e o cheiro da terra seca depois do sol se condensava às flores e ao mato orvalhado. ao longe o marulho das ondas. aquilo era alegria.

no trajeto colhia, ao largo da estrada, minúsculas flores amarelas, lilases, rosas e capins que cresciam a revelia , e compunha pequeninos ramalhetes para minha fadinha, minha princesa ou minha rainha. aquilo era saudade.

ao vir do centro hoje, depois de sondar meus abismos e falar com meu lindo tão distante ao celular, meu coração fremia, meus passos perdiam-se nas calçadas e havia quase lágrimas. mudei o rumo em meu peito, depois comprei três cookies, duas lâmpadas, dois blocos de anotações e me abri para o frescor dos ventos e da chuvinha. muitos futuros há em cada gesto. isso é amor: essas coisas belas e generosas, esses pequenos milagres.

Foto: Pequeninas. Jardim de casa. Campeche. Florianópolis

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