O jovem anda sozinho, rápido em meio à multidão que se dissipa das ruas escuras; os pés cansados das horas de caminhada; os olhos ávidos pela curva cálida de um rosto, brilho de olhos que correspondem, a posição de uma cabeça, um erguer de ombros, a maneira como as mãos se abrem e fecham; o sangue fervilha de desejo; a mente é uma colméia de desejos zumbindo e ferroando; músculos doem do trabalho, o trabalho com picareta e a pá do consertador de estradas, o manejo do pescador com o gancho quando recolhe a escorregadia rede da amurada da traineira adernada, o movimento do braço do homem na ponte ao lançar o rebite em brasa, a mão experiente do maquinista no afogador, o uso que o agricultor faz de seu corpo quando, ao tocas as mulas, desengancha o arado do sulco. O jovem anda sozinho, varrendo a multidão com olhos ávidos, ouvidos ávidos e tensos para escutar, sozinho, só.
Foto: Da coletânea 'Men at work'. Lewis W. Hine.
John dos Passos - O grande capital
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É o primeiro parágrafo: vertigem literária ao ler estas linhas. Debruço-me sobre a capa e preparo para o mergulho.