Mostrando postagens com marcador Mario Benedetti. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mario Benedetti. Mostrar todas as postagens

12 janeiro, 2023

Pedritas en la ventana

Minha netinha Jojo na janela de casa. 2013.

De vez em quando a alegria atira pedrinhas em minha janela

quer avisar-me que está lá esperando

mas hoje me sinto calmo

quase diria equânime

vou guardar a angústia em seu esconderijo

e logo estender-me de cara ao teto

que é uma posição galharda e cômoda para filtrar notícias

e acreditar nelas

quem sabe onde ficam minhas próximas pegadas

nem quando minha história vai ser computada

quem sabe que conselhos vou inventar ainda

e que atalho acharei para não segui-los

está certo não brincarei de despejo

não tatuarei a recordação com esquecimentos

muito fica por dizer e calar

e também ficam uvas para encher a boca

está bem me dou por persuadido

que a alegria não atire mais pedrinhas

abrirei a janela

abrirei a janela


Mario Benedetti

12 junho, 2015

Muito mais grave

Lagoa da Conceição. Foto by Claudia Félix.

Todas as parcelas de minha vida têm algo teu
e isso na verdade não é nada de extraordinário
tu o sabes tão objetivamente como eu

no entanto há algo que gostaria de esclarecer-te
quando digo todas as parcelas

não me refiro só a isto de agora
a isto de esperar-te e aleluia encontrar-te
e caramba de perder-te
e voltar a encontrar
e oxalá nada mais

não me refiro só a que de pronto digas
vou chorar
e eu com um discreto nó na garganta
bom, chora
e que um lindo aguaceiro invisível nos ampare
e quem sabe por isto saia em seguida o sol

nem me refiro só a que dia após dia
aumente o estoque das nossas pequenas
e decisivas cumplicidades
ou que eu possa     ou crer que posso
converter os meus reveses em vitórias
ou me faças o terno presente
do teu mais recente desespero

não
a coisa é muitíssimo mais grave

quando digo todas as parcelas
quero dizer que além desse doce cataclisma
também estás a reescrevendo minha infância
essa idade em que dizemos coisas adultas e solenes
e os solenes adultos as celebram
e tu ao contrário sabes que isso não serve
quero dizer que estás rearmando minha adolescência
esse tempo em que fui um velho carregado de receios
e tu sabes em troca extrair desse deserto
o meu gérmen de alegria         e presenteá-lo olhando-o

quero dizer que estás sacudindo minha juventude
esse cântaro que ninguém nunca pegou em suas mãos
essa sombra que ninguém aproximou da sua sombra
e tu em troca sabes estremecê-la
até que comecem a cair as folhas secas
e fique a armação da minha verdade sem proezas

quero dizer que estás abraçando minha maturidade
esta mistura de estupor e experiência
este estranho confim de angústia e neve
esta vela que ilumina a morte
este precipício da pobre vida

como vês é mais grave
muitíssimo mais grave
porque com estas ou com outras palavras
quero dizer que não és tão só
a querida menina que és
mas também as esplêndidas
ou cautelosas mulheres
que quis ou quero

Porque graças a ti tenho descoberto
(dirás já era hora             e com razão)
que o amor é uma baía linda e generosa
que se ilumina e se escurece
segundo venha a vida

uma baía onde os barcos
chegam e se vão

chegam com os pássaros e augúrios
e se vão com sirenes e nuvens carregadas
uma baía linda e generosa
onde os barcos chegam
            e se vão
Mas tu
por favor
               não te vás.



Mario Benedetti

18 julho, 2014

Nostalgia

De que se nutre a nostalgia?24db990395cfe35df4be950b838f140f Beautiful GIF Animations by Oamul Lu.
Alguém evoca doçuras
céus atormentados
escândalos sem ruído
paciências estiradas
árvores ao vento
opróbios prescindíveis
belezas de mercado
cânticos e alvoroços
garoas como penas
escopetas de sonho
perdões bem ganhados
mas com esses mínimos
não se arma a nostalgia
são meros simulacros
a válida a única
nostalgia é de tua pele



Mario Benedetti


...


Tradução livre por Claudia Félix


24 abril, 2014

Mucho más grave


Todas las parcelas de mi vida tienen algo tuyo
y eso en verdad no es nada extraordinario
vos lo sabés tan objetivamente como yo

sin embargo hay algo que quisiera aclararte
cuando digo todas las parcelas

no me refiero sólo a esto de ahora
a esto de esperarte y aleluya encontrarte
        y carajo de perderte
        y volverte a encontrar
        y ojalá nada más

no me refiero sólo a que de pronto digas
        voy a llorar
y yo con un discreto nudo en la garganta
        bueno llorá
y que un lindo aguacero invisible nos ampare
y quizá por eso salga enseguida el sol

ni me refiero sólo a que día tras día
aumente el stock de nuestras pequeñas
        y decisivas complicidades
o que yo pueda         o creerme que puedo
        convertir mis reveses en victorias
o me hagas el tierno regalo
        de tu más reciente desesperación

no
la cosa es muchísimo más grave

cuando digo todas las parcelas
quiero decir que además de ese dulce cataclismo
también estás reescribiendo mi infancia
esa edad en que uno dice cosas adultas y solemnes
y los solemnes adultos las celebras
y vos en cambio sabés que eso no sirve
quiero decir que estás rearmando mi adolescencia
ese tiempo en que fui un viejo cargado de recelos
y vos sabés en cambio extraer de ese páramo
mi germen de alegría         y regarlo mirándolo

quiero decir que estás sacudiendo mi juventud
ese cántaro que nadie tomó nunca en sus manos
esa sombra que nadie arrimó a su sombra
y vos en cambio sabés estremecerla
hasta que empiecen a caer las hojas secas
y quede el armazón de mi verdad sin proezas

quiero decir que estás abrazando mi madurez
esta mezcla de estupor y experiencia
este extraño confín de angustia y nieve
esta bujía que ilumina la muerte
este precipicio de la pobre vida

como ves es más grave
muchísimo más grave
porque con estas o con otras palabras
quiero decir que no sos         tan sólo
la querida muchacha que sos
sino también las espléndidas
        o cautelosas mujeres
        que quise o quiero

porque gracias a vos he descubierto
(dirás que ya era hora
                                        y con razón)
que el amor es una bahía linda y generosa
que se ilumina y se oscurece
                según venga la vida

una bahía donde los barcos
        llegan y se van

llegan los pájaros y augurios
y se van con sirenas y nubarrones
una bahía linda y generosa
donde los barcos llegan
                y se van
pero vos
por favor
                no te vayas.





Mario Benedetti

04 outubro, 2013

A borra do café


Assim, os sucessivos tangos daquela noite, que não foi mágica, e sim terrestre, permitiram que meu corpo e o de Mariana se conhecessem e se desejassem, se complementassem e se necessitassem. Quando, três dias depois, nos despojamos de toda a roupagem e nos vimos tal e qual éramos, a nudez textual nos trouxe poucas novidades. Desde o quinto tango, nós já sabíamos de cor. Algum detalhe novo (um sinal, sete sardas, a cor dos pelos fundamentais) era pouco menos que subsidiário e não modificava a imagem primeira, a essencial, aquela que a disponibilidade sensitiva de cada corpo havia transmitido aos arquivos da imaginação. A memória do corpo não cai nunca em minúcias. Cada corpo recorda do outro o que lhe dá prazer, e não aquilo que o diminui. É uma memória entranhada, mais, muito mais generosa do que o tato já desgastado das mãos, excessivamente contaminadas de rotina cotidiana. O peito que toca peitos, a cintura que sente cintura, o sexo que roça sexo, toda essa saborosa rede de contatos, embora se verifique através de sedas, casimiras, algodões, fios ou tecidos mais rústicos, aprendem rápida e definitivamente a geografia do território, que chegará ou não a ser amado, mas que por enquanto é fervorosamente desejado.

Mario Benedetti

14 agosto, 2013

O silêncio do mar

                                        e o silêncio do mar, e o de sua vida
                                                                                 José Hierro 

Mais dos melhores Natureza GIFs nos gifs natureza da Web O silêncio do mar
brama um juízo infinito
mais concentrado que o de um cântaro
mais implacável que duas gotas

quer aproxime o horizonte ou nos entregue
a morte azul das medusas
nossas suspeitas não o deixam

o mar escuta como um surdo
é insensível como um deus
e sobrevive aos sobreviventes

nunca saberei o que espero dele
nem que juras deixa atrás dos meus passos
mas quando esses olhos se fartam de ladrilhos
e esperam entre o plano e as colinas
ou em ruas que se fecham em mais ruas
então sim me sinto um náufrago
e só o mar pode salvar-me


Mario Benedetti
Tradução de Julio Luís Gehlen



05 julho, 2013

Qué les queda por probar a los jóvenes


¿Qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de paciencia y asco?
¿sólo grafitti? ¿rock? ¿escepticismo?
también les queda no decir amén
no dejar que les maten el amor
recuperar el habla y la utopía
ser jóvenes sin prisa y con memoria
situarse en una historia que es la suya
no convertirse en viejos prematuros

¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de rutina y ruina?
¿cocaína? ¿cerveza? ¿barras bravas?
les queda respirar / abrir los ojos
descubrir las raíces del horror
inventar paz así sea a ponchazos
entenderse con la naturaleza
y con la lluvia y los relámpagos
y con el sentimiento y con la muerte
esa loca de atar y desatar

¿qué les queda por probar a los jóvenes
en este mundo de consumo y humo?
¿vértigo? ¿asaltos? ¿discotecas?
también les queda discutir con dios
tanto si existe como si no existe
tender manos que ayudan / abrir puertas
entre el corazón propio y el ajeno /
sobre todo les queda hacer futuro
a pesar de los ruines de pasado
y los sabios granujas del presente.


Mario Benedetti


Foto: Obra de William Kentridge Fortuna. Museu Iberê Camargo. 2013

01 junho, 2012

Como árvores



quem diria
que estes poemas de outros
seriam
meus

depois de tudo há homens que não fui
e sem dúvida quis ser
se não por uma vida ao menos por um tempo
ou por um piscar

em troca há homens que fui
e já não sou nem posso ser
e isto não sempre é um avanço
as vezes é uma tristeza

há desejos profundos e nonatos*
que prolonguei como coordenadas
há fantasias que me prometi
e desgraçadamente não cumpri
e outras que cumpri sem prometê-las

há rostos de verdade
que iluminaram minhas fábulas
rostos que não vi mais, porém seguiram
vigiando-me desde
a letra em que lhes coloquei

há fantasmas de carne, outros de osso
também há os de fogo e coração
ou seja corpos em pena, almas em júbilo
que vi ou toquei ou simplesmente pus
a secar
a viver
a gozar
a morrer
porém além está o que percebi distante

eu também escutei uma pomba
que era de outros dilúvios
eu também destrocei um paraíso
que era de outras infâncias
eu também gemi um sonho
que era de outros amores

assim pois
deste misterioso confim da existência
os outros me ampararam como árvores
com ou sem ninhos
pouco importa
não deram inveja, senão frutos

esses outros estão
aqui

seus poemas
são mentiras de punho
são verdades piedosas

estão aqui
rodeando-me
julgando-me
com as pobres palavras que lhes dei

homens que olham a terra e o céu
através da névoa
ou sem seus óculos
também a mim me olham
com a pobre mirada que lhes dei

são outros que estão fora de meu reino
claro
mas também
estou neles

às vezes tem o que nunca tive
às vezes amam o que quis amar
às vezes odeiam lo que estou odiando

de repente me parecem distantes
tão remotos
que me dão vertigem e melancolia
e os vejo minados por um duelo sem pranto
e outras vezes em troca
os pressinto tão perto
que olho por seus olhos
e toco por suas mãos
e quando odeiam me alegro de seu rancor
e quando amam me amparo em sua alegria

quem diria
que estes poemas meus
seriam
de outros


Mario Benedetti
Foto: Dos poemas. Imbé. RS.


* nonato - que não nasceu de parto natural
...
(Livre tradução do poema por Claudia Félix)



24 abril, 2012

Cada ciudad puede ser otra



Los amorosos son los que abandonan, 
son los que cambian, 
los que olvidan.                              
                         
Jaime Sabines


Cada ciudad puede ser otra
cuando el amor la transfigura
cada ciudad puede ser tantas
como amorosos la recorren

el amor pasa por los parques
casi sin verlos amándolos
entre la fiesta de los pájaros
y la homilía de los pinos

cada ciudad puede ser otra
cuando el amor pinta los muros
y de los rostros que atardecen
unos es el rostro del amor

y el amor viene y va y regresa
y la ciudad es el testigo
de sus abrazos y crepúsculos
de sus bonanzas y aguaceros

y si el amor se va y no vuelve
la ciudad carga con su otoño
ya que le quedan sólo el duelo
y las estatuas del amor


Mario Benedetti

Foto: Dos dias leves.Urubici. Florianópolis.

17 abril, 2012

Ésta es mi casa




Ésta es mi casa
No cabe duda. Ésta es mi casa
aquí sucedo, aquí
me engaño inmensamente.
Ésta es mi casa detenida en el tiempo.

Llega el otoño y me defiende,
la primavera y me condena.
Tengo millones de huéspedes
que ríen y comen,
copulan y duermen,
juegan y piensan,
millones de huéspedes que se aburren
y tienen pesadillas y ataques de nervios.

No cabe duda. Ésta es mi casa.
Todos los perros y campanarios
pasan frente a ella.
Pero a mi casa la azotan los rayos
y un día se va a partir en dos.

Y yo no sabré dónde guarecerme
porque todas las puertas dan afuera del mundo.


Mario Benedetti

Foto: Minha casa: Florianópolis.

27 janeiro, 2012

Luto y nieve



Palabras hay que llegan con su luto
también otras que llegan con su nieve
el lenguaje que va cortando el aire
es una arma del tiempo o de la suerte

hay un río verbal con dos orillas
que transcurre deshilachadamente
y aunque nadie lo asume es un dialecto
que dice cosas cuando todos duermen

hay un vocabulario misterioso
que crea voces y pese a quien pese
nos penetra con o sin fundamento
y en el pozo del alma se sumerge

hay palabras que llegan con su luto
en cambio ya no vemos las de nieve
la tristeza a hurtadillas nos vigila
y su silencio cándido estremece

el bosque nos desvela con su sombra
y es poco lo que el mundo nos promete
se van los pajaritos y las nubes
y nos quedamos solos como siempre


Mario Benedetti


Foto: Réquiem. Campeche. Florianópolis.
. . .


Os passarinhos me olharam calmamente no fio de luz em frente ao quarto na praia. O sol nasceu tímido, brincando de esconde nas nuvens. O dia transcorre melancólico, lento e silencioso. A casa está vazia, há apenas eu que caminho pelos cômodos e pelas horas. Tudo aqui hoje é saudade. 

24 novembro, 2011

Vamos juntos



Con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

compañero te desvela
la misma suerte que a mí
prometiste y prometí
encender esta candela

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

la muerte mata y escucha
la vida viene después
la unidad que sirve es
la que nos une en la lucha

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

la historia tañe sonora
su lección como campana
para gozar el mañana
hay que pelear el ahora

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

ya no somos inocentes
ni en la mala ni en la buena
cada cual en su faena
porque en esto no hay suplentes

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero

algunos cantan victoria
porque el pueblo paga vidas
pero esas muertes queridas
van escribiendo la historia

con tu puedo y con mi quiero
vamos juntos compañero.



Mario Benedetti

Foto: Vamos juntos. Campeche. Florianópolis.

26 setembro, 2011

Não te rendas



No te rindas, aún estás a tiempo
De alcanzar y comenzar de nuevo,
Aceptar tus sombras,
Enterrar tus miedos,
Liberar el lastre,
Retomar el vuelo.

No te rindas que la vida es eso,
Continuar el viaje,
Perseguir tus sueños,
Destrabar el tiempo,
Correr los escombros,
Y destapar el cielo.

No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se esconda,
Y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma
Aún hay vida en tus sueños.

Porque la vida es tuya y tuyo también el deseo
Porque lo has querido y porque te quiero
Porque existe el vino y el amor, es cierto.
Porque no hay heridas que no cure el tiempo.
Abrir las puertas,
Quitar los cerrojos,
Abandonar las murallas que te protegieron,
Vivir la vida y aceptar el reto,
Recuperar la risa,
Ensayar un canto,
Bajar la guardia y extender las manos
Desplegar las alas
E intentar de nuevo,
Celebrar la vida y retomar los cielos.

No te rindas, por favor no cedas,
Aunque el frío queme,
Aunque el miedo muerda,
Aunque el sol se ponga y se calle el viento,
Aún hay fuego en tu alma,
Aún hay vida en tus sueños
Porque cada día es un comienzo nuevo,
Porque esta es la hora y el mejor momento.

Porque no estás solo, porque yo te quiero.



Mario Benedetti


Foto: Dos dias idos. Sambaqui. Florianópolis. 


Ganhei esta poesia de Martin, um querido amigo uruguaio. E ela parece ter sido escrita para o dia de hoje... 

10 agosto, 2011

Testamento de Quarta-Feira

 
 
Quero esclarecer que este testamento
não é o corrente cólofon da vida
trata-se antes de um legado frágil
vigente apenas até ao final de um dia

digamos pois que lego para quinta-feira
as minhas inquietações de terça
mudadas apenas um pouco pelos sonhos
e essa tristeza que é inevitável

lego uma nuvem de mosquitos
e um computador que não tem pilhas
e até a minha solidão com a esperança
de que os meus legatários não a admitam

lego à quinta-feira quatro remorsos
a chuva que contemplo e não me molha
e o feto ritual que me intimida
com a velha elegância das suas folhas

lego o ranger azul das minhas dobradiças
e uma talhada da minha sombra leve
não toda porque um homem sem a sua sombra
perde o respeito da boa gente

lego o pescoço que lavei como
para uma quinta-feira de forca ou guilhotina
e uma vontade que ignoro se é recato
ou estupidez malsã ou alegria

lego os subúrbios de uma ideia
um tríptico de espelhos que me fere
o mar ali ao alcance da mão
a hera que se agita nas paredes

e só agora penso que na minha árvore
nas minhas brumas sem rosto e no meu vinho
ficam-me por legar tantas histórias
que alguma se me esconde no esquecimento

por isso e por precaução e por causa das dúvidas
e para não afligir os meus herdeiros
deixo-as para outro testamento
digamos que para o testamento de quinta-feira

Mario Benedetti

(Tradução de Anthero Monteiro)

Foto: Dias de sol e frio. Beira-mar. Florianópolis on the road.


14 junho, 2011

Papel mojado




Con rios
con sangre
con lluvia
o rocio
con semen
con vino
con nieve
con llanto
los poemas
suelen
ser papel mojado.



Mario Benedetti


Foto: Navegar é preciso. Lagoa da Conceição. Floiranópolis. SC.

07 junho, 2011

Memorándum




Uno llegar e incorporarse el día
Dos respirar para subir la cuesta
Tres no jugarse en una sola apuesta
Cuatro escapar de la melancolía
Cinco aprender la nueva geografía
Seis no quedarse nunca sin la siesta
Siete el futuro no será una fiesta
Y ocho no amilanarse todavía
Nueve vaya a saber quién es el fuerte
Diez no dejar que la paciencia ceda
Once cuidarse de la buena suerte
Doce guardar la última moneda
Trece no tutearse con la muerte
Catorce disfrutar mientras se pueda.

Mario Benedetti

Foto: Dos dias que se iluminaram. Perto de casa. Florianópolis. SC.

Dia de fofura e risos no ar... 

30 março, 2011

En un café



A veces me metía en un café
acompañado de mi soledad
y quería pensar y no pensaba
porque en la esquina del tumulto ajeno
me convocaba algún silencio simple

uno es tan único que no consigue
ser como otros y menos no ser
nos levantamos y desmoronamos
con los recuerdos e con los despistes

mirarse adentro puede tener gracia
y también puede convertirse en duelo
nos conocemos tan precariamente
que respiramos y eso nos asombra
el corazón aporta sus latidos
y los sentimos con un ritmo ajeno

es cierto / me metia en un café
y los otros pasaban y pasaban
pero no me dejaban ni un vistazo
para que lo escondiera en mi guarida

Mario Benedetti
Foto: É preciso. Museu da Lingua Portuguesa. São Paulo.

16 março, 2010

A un hombre humilde



Qué bueno que no seas
un criminal / qué bueno
que puedas dialogar con tu consciencia
y en tu vida reserves más espacio
para el amor que para el odio

cuando el parné quiso tentarte
dijiste no con la cabeza
con tus miradas con tu sombra
con tus silencios y clamores
en el amanecer y en el crepúsculo

no importa que allá lejos y aquí cerca
mueran y resuciten los furiosos
de la mano de un dios en cada pugna
y firmen una paz para estar libres
de iniciar otra guerra a vuelta de hoja

yo sé que a veces te amilanas
y que te duele el mundo tan letal
pero me gusta ver que te repones
y que sigues y sigues como siempre


Mario Benedetti

Foto: Dos momentos únicos. Cacupé. Florianópolis.

03 fevereiro, 2010

hagamos un trato



Cuando sientas tu herida sangrar
cuando sientas tu voz sollozar
cuenta conmigo
(de una canción de Carlos Puebla)



Compañera
usted sabe
que puede contar
conmigo
no hasta dos
o hasta diez
sino contar
conmigo

si alguna vez
advierte
que la miro a los ojos
y una veta de amor
reconoce en los míos
no alerte sus fusiles
ni piense qué delirio
a pesar de la veta
o tal vez porque existe
usted puede contar
conmigo

si otras veces
me encuentra
huraño sin motivo
no piense qué flojera
igual puede contar
conmigo

pero hagamos un trato
yo quisiera contar
con usted
es tan lindo
saber que usted existe
uno se siente vivo
y cuando digo esto
quiero decir contar
aunque sea hasta dos
aunque sea hasta cinco
no ya para que acuda
presurosa en mi auxilio
sino para saber
a ciencia cierta
que usted sabe que puede
contar conmigo


Mario Benedetti
Foto: Das coisas celestes. Campeche. Florianópolis.

21 julho, 2009

Soneto del camino

No es fácil saber cuál es el camino
que nos lleva hasta el mar de la utopia
sin contar con la lámpara de un guía
surgido en algún cruce del destino

el azar no es humano ni divino
pero más de una vez nos desafía
entonces hay que usar la valentía
y enfrentralo con música y con vino

cada senda se orienta y nos orienta
guarda un poco de alma para luego
y agua también para la fe sedienta

ah pero en el destino hay travessura
y como nadie entiende de ese juego
el camino se pierde en la espesura


Mario Benedetti
Foto: Alguém. Pântano do Sul. Florianópolis.

patiodotempo.blogspot.com

patiodotempo.blogspot.com
"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro