24 dezembro, 2009

Tudo faltaria


Ainda que no meu minuto de poesia eu praticasse
o nudismo completo da alma
e as gentes se curvassem diante de minha pureza;
embora eu possuísse a graça dos lírios do campo
e a minha palavra fosse como água clara
rolando da montanha
e eu me sentasse ao lado dos sábios da terra;
e ainda que eu tivesse a beleza de Pauline Bonaparte
e os homens me chamassem de divina
e a doçura das úmidas bergamotas
meu amado sempre achasse em minha boca;
ainda assim, tudo faltaria
se eu não tivesse o humano em todos os meus gestos.
Se o rosto de todas as crianças
eu não quisesse banhado de ventura
como se elas tivessem brotado de minha carne
e devorado meu sangue antes de nascer.
Tudo faltaria
se eu não fosse capaz de querer
para todo ser humano
o pão, a rosa e a paz.


Maura de Senna Pereira


Foto: Das coisas belas. Urubici. SC.

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