25 março, 2010

Enquanto faço o verso



Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta o teu ouro de dentro.
É outro o amarelo que te falo.

Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".

Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
morre o amor de um poeta.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.


Hilda Hilst

Foto: Das coisas que não germinam. Cacupé. Florianópolis.

Um comentário:

Flávia Diniz. disse...

Adoro Hilda Hist.
Obrigada pela vista, querida.


Beijos e tenha um ótimo dia

=*

patiodotempo.blogspot.com

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"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro