
De paredes lilás que levamos três dias pintando; de grandes portas de vidro abrindo para a sacada; os quatro quadrinhos que pintei na parede ao lado da cama e numa outra, duas fotos dela aos quatro anos vestida de antigamente; na entrada, a placa escrito 'Cuba' na parede, acima do espelhinho rosa que ela pintou, mais abaixo o gaveteiro que foi de meu berço com a toalha de crochê rosa feita pela bisavó; a mesa cor de madeira para estudos que o avô fez repousa ao fundo do quarto; o painel de fotos de muitos bons momentos e onde fica a doação por escrito das bochechas mais fofas do mundo: a do primo; no meio, o gaveteiro que desenhei feito pela tia marceneira; os tapetes que minha amiga deu-lhe aos quinze anos dormem ao lado da cama; a estrela de metal que compramos num 'mercado-mundo-mix' pendurada ainda; umas estrelinhas fosforescentes no teto; umas roupas no closet... e a sua ausência por todo lado.
Ontem dormi no quarto da praia que foi de minha filha e guardo aqui estas coisas que me abraçaram ao deitar, pois elas vão mudar, estão mudando. Acordei hoje com seu telefonema avisando de um problema grave. Falava com serenidade e força. Fiquei ali, sentada na cama, olhando aquelas paredes lilases que abrigaram esta pessoa incrível, que brotou em mim, cresceu, cresceu e hoje é do mundo: já florescendo.
Foto: Nuvens com brilho de sol da janela da casa de minha filha. Florianópolis.
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