15 junho, 2010

Oh as casas as casas as casas





Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas



Ruy Belo

Foto: Pintura da casa. Santo Antônio de Lisboa. Florianópolis.

3 comentários:

Helcio Maia disse...

A casa dos pobres é todo o mundo - que imagem lindíssima, admirável!!
Casas que se apalpam, que se abraçam, que cabem na retina e na rotina perdida, casas demolidas, antes da demolição física, sonhos implodidos, antes da explosão.
Casa de ferreiro, da mãe joana, quem casa, quer casa...
A casa da gente é gente, a gente da casa az parte da casa, faz parte da gente, não por acaso.
Abraços fátuos!

♪ Sil disse...

Que lindoooooooooooooo!!!
Oh, as casas...as casas...
A minha tem tantas histórias!!

Um abraço grande!

Chez POPI disse...

Menina quanto talento!!
Amei as Poesias , amei as fotos...
Vc é muito artista!
Paula

patiodotempo.blogspot.com

patiodotempo.blogspot.com
"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro