13 janeiro, 2013

Eu era apenas quanto


Eu era apenas quanto
a tua mão tocasse
ou sobre o que inclinavas,
no breu da noite, a face.

Eu era, embaixo, quanto
notavas turvo, apenas:
traços, no início, vagos;
feições, mais tarde, plenas.

Foste quem logo, ardente,
criou-me a sussurrar,
seja à direita, à esquerda,
a concha auricular.

Foste, a agitar cortinas,
quem, na umidade cava
da boca, introduziu-me
a voz que te chamava.

Eu era cego e, vindo,
sumindo-te de mim,
doaste-me a visão.
Fica um vestígio, assim.

E, assim, criam-se mundos
que são postos de lado,
girando, quando prontos,
presente abandonado.

Em meio, pois, de treva
e luz, calor e frio,
prossegue o nosso globo
seu giro no vazio.


Joseph Brodsky

Foto: La se vão as nuvenzinhas - Claudia Félix
. . .

Minha querida amiga Jenifer-Felicidade mandou certa vez este poema (a pedidos) ... 

Um comentário:

Oria Allyahan disse...

Olhando bem, essas nuvem mantêm um diálogo bem sugestivo com os versos de Brodsky!

Bem interessante!

^^

patiodotempo.blogspot.com

patiodotempo.blogspot.com
"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro