13 fevereiro, 2009

amavisse


Não haverá um equívoco em tudo isso?
O que será em verdade transparência
Se a matéria que vê, é opacidade?
Nesta manhã sou e não sou minha paisagem
Terra e claridade se confundem
E o que me vê
Não sabe de si mesmo a sua imagem.
E me sabendo quilha castigada de partidas
Não quis meu canto em leveza e brando
Mas para o vosso ouvido o verso breve
Persistirá cantando.
Leve, é o que diz a boca diminuta e douta.
Serão leves as límpidas paredes
Onde descansareis vosso caminho?
Terra, tua leveza em minha mão.
Um aroma te suspende e vens a mim
Numas manhãs à procura de águas.
E ainda revestida de vaidades, te sei.
Eu mesma, sendo argila escolhida
Revesti de sombra a minha verdade.

Amavisse - Hilda Hilst

Foto: Leveza. Sambaqui. Florianópolis.


Um comentário:

Rubens da Cunha disse...

Obrigado pela visita ao Casa de Paragens,

saber que vc é uma leitora de Hilda e que gostou do meu texto, me deixa feliz.
não tanto pelo meu texto, mas por ter uma igual na paixão por Hilda

abraços
Rubens

patiodotempo.blogspot.com

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"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro