15 novembro, 2009

nude

Haviam noites em que custava a dormir, temia não voltar. A escuridão que me habita poderia não mais se iluminar. Andava pela casa, ligava a TV, o computador, escrevia, lia: desligava de mim. Depois tinha que deitar e entrava no dia como num pesadelo ou sonho - a irrealidade do chão era a mesma. Não sei como sobrevivi a estes tempos. Fisicamente, falo. Meu corpo era como guerra num país insignificante - milhões de mortos anônimos. Talvez por isso tocava o mundo com muita delicadeza. Implodi incontáveis vezes, e tantas diante de teus olhos... No começo, lembro, ainda me vias. Agora, com o cotidiano instaurado, as incongruências e o silêncio atado, as implosões despercebidas, minha transparência foi crescendo e a impossibilidade de ser algo tangível: um ser invisível que ainda inspira e aspira.

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"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro