Parte 1
A proposta era mandar uma resposta para a pergunta: "Qual o som do seu silêncio". Apenas 40 pessoas seriam selecionadas e ganhariam "O livro das cores não ditas #2". Eis minha resposta:
"Chilreios suaves de pássaros, latidos ao longe quando em vez, marulho das ondas no fim da rua e o farfalhar de vento nas arvores. (Quando estou sozinha em casa, e a paz baixa por sobre todas as coisas, a vida ao redor pulsa, fazendo este silêncio em mim..."
E um dia me recebi um e-mail dizendo que havia sido sorteada! O livro demorou um tempinho, mas quando chegou, quanta lindeza... Eu deveria mandar em troca algo que tivesse valor afetivo.
Desde ali fiquei pensando no que mandar. A casa cheia de verão e mil coisas por fazer. Só em finais de abril consegui começar. Costurei uma toalhinha de mesa simples (as que mais gosto), uma cestinha de pão, um descansa-bule bordado e junto uma toalhinha de crochê feito por minha avó - era esta a peça afetiva que mandava. E como é difícil doar algo que se ama e de quem se ama. Só em maio enviei. E depois esperei ansiosamente quando chegaria lá, o que elas diriam. Em junho postaram no Facebook.
Parte 2
Tempo para tomar um café-da-manhã. Tempo para tomar chá com a mãe e a irmã caçula. Tempo para fazer um bolo para a amiga que virá. Tempo para sentir um poema. Tempo para costurar um presente. Tempo para o por-do-sol. Tempo para correr com as netas. Tempo para namorar. Tempo para conversar com a filha. Tempo para ver as flores crescendo. Tempo para escrever para as irmãs que moram longe. Tempo para fazer comida com o sobrinho. Tempo para jantar com o enteado. Tempo para perceber as cores. Tempo para trabalhar. Tempo para ouvir o silêncio.
Todos estes tempos o Coletivo Xícara me fez pensar. No tempo que já se foi, no tempo que estamos, no que virá. Em como cada vez mais as pessoas tem pouco tempo para o contato real com o mundo. Como a relação de compra substituiu a generosidade da troca. Como o afeto é importante entre nós.
...
Parte 3
E neste dia que escrevi estes parágrafos acima, com a idéia de terminar mais tarde, recebi a notícia de que uma amiga muito jovem e muito querida morreu.
O silêncio tocou fundo, o silêncio das lágrimas que caem para dentro. Minhas palavras perderam o sentido. Ainda preciso construir este tempo: o de estar mais com todas as pessoas que amo, pois o tempo que perdemos não se recupera, mas o tempo que compartilhamos se multiplica para a eternidade!
((Só tenho a agradecer por todo o tempo que compartilhei nesta vida contigo, Danielle, uma das pessoas mais alegres e divertidas que já conheci.))
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