Roseira do pátio de casa. 2022. |
nalgum lugar em que eu nunca estive,
alegremente além
de qualquer experiência,
de qualquer experiência,
teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil
no teu gesto mais frágil
há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar
ou que eu não ouso tocar
porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar
teu mais ligeiro olhar
facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,
embora eu tenha me fechado como dedos,
nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala
me abres sempre pétala por pétala
como a primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente)
(tocando sutilmente, misteriosamente)
a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,
eu e minha vida nos fecharemos belamente,
de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respiras
(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre;
só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas...
(E.E. Cummings, traduzido por Augusto de Campos)
"Nalgum lugar" - musicado por Zeca Baleiro...
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