07 outubro, 2007

para suportar o grande peso



O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão
era apenas
Morro do Antão.

A Ponte Hercílio Luz
tinha trilhos de pranchão
e um guarda sempre de plantão (...)


O ônibus
parava na Alfândega
e não se chamava terminal
era apenas ponto final (...)

A chuva
Molhava a gente
nas noites de carnaval.

O Job sabia de tudo
frequentava o senadinho
e sacaneava aquele mudo
do café do seu Foguinho (...)

A Dona Traça
se pintava
na Figueira da Praça
todas as manhãs.

As lavadeiras de Sambaqui
pareciam margaridas
deixando as ruas floridas
com seu ti-ti-ti.

Desciam na Catedral
de um ônibus quase sem bancos
e levavam na cabeça
aqueles seus sacos brancos.

Com as duas mãos soltas
cumpriam desenvoltas
seu rito matinal.

Eram marias
Marias de carnaval
levando na patroa
as roupas do varal.

O Morro da Cruz
não tinha luz
nem televisão.
Era apenas
Morro do Antão.




Pedro Bertolino - Poemilhas

Foto: Insular, eu sou. Florianópolis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aos teus convites todos, sejam quantos sejam, aceito-os sem temor. Sinto-me bem em tua proximdade, ainda que virtualizada.

Afeto, friendada.

patiodotempo.blogspot.com

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"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro