06 maio, 2010

Minha casa



É mais fácil
Cultuar os mortos
Que os vivos
Mais fácil viver
De sombras que de sóis
É mais fácil
Mimeografar o passado
Que imprimir o futuro...

Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...

Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas

Amoras silvestres
No passeio público
Amores secretos
Debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar

Veja o mundo passar
Como passa
Uma escola de samba
Que atravessa
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Sentado na porta
De minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei


Zeca Baleiro
Desenho: América invertida. Joaquín Torres García.

3 comentários:

simone gallego disse...

rindo!

eu ia postar isso nessa semana!
ando ouvindo Zeca Baleiro sem parar....

acabei postando outra... que a Luíza Possi gravou....

bj

Felicidade Clandestina disse...

"Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas..."



amo essa última estrofe.
gosto demais do Zeca.

neste fim de semana ele fará show aqui em Salvador. pena que não poderei ir.

enquanto isso,
venho aqui no seu Pátio e fico lendo, sentindo e viajando na letra dessa canção.


beijos querida,
um abraço da amiga baiana ;)

♪ Sil disse...

Zeca é maravilhosooooooo.
Perfeito!!!

Grande abraço!!!

patiodotempo.blogspot.com

patiodotempo.blogspot.com
"e o mundo é meu, o mundo é seu, de todo mundo..." Zeca Baleiro